28/10/2012

GENTE, que negócio é esse?


GENTE, que negócio é esse?
Hoje, 28/10/2012, meio estarrecida, li um artigo na internet do Jornal O Globo, que falava do uso de Tablets e smartphones por alunos da rede municipal de educação do RJ. (http://oglobo.globo.com/rio/escola-na-rocinha-usara-tablets-smartphones-6550490)
Eu sou do tempo do caderno de caligrafia, do lápis preto, do quadro negro e da Mágica do Saber.
Desde meus 4 anos de idade dizia que queria ser professora. Aos 8 anos, nas férias escolares, iniciei a alfabetização do neto, de 6 anos, de uma vizinha. Bom, naquela época as férias escolares duravam 3 meses. Tempo suficiente pra despertar numa criança a vontade de aprender a ler e escrever, descobrir o mundo.
Fiquei imaginando como seria aprender a ler e escrever por um tablet. Minha imaginação “fértil” pra inventar histórias voou, afinal um bom alfabetizador tem que saber contar e inventar histórias, pois ensinar e aprender de forma lúdica é mais prazeroso.
Imaginei uma pequena sala pouco iluminada com um reduzido grupo de garotos, com suas tabuinhas, papiros, canas e paletas. Nossa, eu estava numa sala de futuros escribas! Todos vestidos a moda egípcia, assim como o escriba mestre. Um velho sacerdote do templo da deusa Sechat, filha/concubina do deus Tot. (Caraca, viajei!!! E só tomei coca-cola no almoço)
Comparando os dois mundos, percebi que a situação é a mesma. Uns poucos meninos seriam adestrados nas artes da escrita e da leitura, fonte de todo o poder. Adestrados!!! Alguém exclamaria. Sim, adestrados, pois os sacerdotes que eram os detentores da sabedoria, trabalhavam a serviço da “religião/estado”. E o mesmo acontece ou acontecerá nos tempos digitais. Uns poucos garotos serão formatados na arte de aprender a ler e escrever, segundo a “doutrina atual _ nenhum aluno a menos”, por competência digital E qual seria o melhor modelo de  competência? Behaviorista ou cognitivo? Qual a melhor linha de pensamento será? De McClelland, Boyatzis, Zarifia, Le Boterf e etc...?
Já se foi o tempo em que saíamos com a turma pela comunidade, e ao retornarmos tínhamos um zilhão de assuntos para comentar sobre a história do lugar, seu meio ambiente, pesquisar palavras, criar textos, situações problema, fazer maquetes estudando as figuras geométricas, plantas baixas e a localização espacial..., tantos assuntos ligados a língua portuguesa, matemática, ciências e história. O aluno aprendia de forma lúdica e concreta.
Mas tanto lá, na sala dos escribas, como hoje, na sala dos “tabletistas”, a situação se repetirá. Os hieróglifos que inicialmente tinham cerca de 700 caracteres depois de um tempo passou a ter mais de 6.900, dificultando sobremaneira sua tradução. E como os alunos da pcrj são exímios no internetês, serão os novos difusores desta língua/escrita difícil de entender.
Só que minha fértil imaginação, deu um salto para um futuro bem parecido ao preconizado, pelo viciado em Mescal, Aldus Ashley em o Admirável Mundo Novo. “Admirável Mundo Novo (Brave New World na versão original em língua inglesa) é um livro escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932 que narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais aparentes chamada "soma". As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família também não existe.” Fonte: Wikipédia
Parece surreal, mas já está acontecendo. Senão vejamos: A droga “soma”: dos ricos é o “êxtase”, a dos pobres é o “crack”, as duas “acalmam” e tornam seus usuários uns hebetados. Os Alfas e Betas dominam a sociedade “civilizada”, os Gamas e Deltas trabalham para os dominadores, e os Ípsilons são os trabalhadores braçais, moram no subúrbio que é vigiado pelo estado, são mal remunerados, sem educação formal, mas servis, pois usam um “soma” mais barato. Na atualidade não acontece o mesmo? O que é essa ocupação das favelas? O que é essa enxurrada de projetos educacionais, essa desestabilização do professorado, essa idolatria política?
Acho que vou parar de beber coca-cola. Ela está me fazendo viajar demais e engorda.