José Luiz de Pinho, Jornal do Brasil
RIO - Com um misto de perplexidade e indignação. É assim que os cariocas estão encarando o projeto Rio Verde, da prefeitura, que prevê o fechamento da Avenida Rio Branco e adijacências a carros e ônibus, para transformá-las num parque urbanístico com 2 milhões de metros quadrados. O teste será no dia 26 de junho, um sábado. Até lá, o prefeito Eduardo Paes terá de conviver com as críticas das pessoas envolvidas no processo, como atestou o JB, em sua ida ao epicentro da polêmica.
Há 20 anos dona de um consultório de ginecologia e mastologia, na esquina da Rio Branco com Avenida Nilo Peçanha, a médica Rose Ribeiro repudia a criação do parque.
– Tenho várias pacientes acima de 80 anos, como elas vão se deslocar até a Rio Branco de metrô? – revolta-se a médica. – O prefeito acha que eu vou andar de metrô com um laptop e equipamento médico? Para ser assaltada?.
Rose ainda reclama da desvalorização do imóvel.
– Há duas décadas, fiz um grande investimento comprando meu consultório na esquina da Rio Branco por ser um ponto nobre. Agora vai ser esquina com um calçadão? Esse prefeito é mais maluco que o Cesar Maia – indigna-se.
Motoristas revoltados
Os taxistas também desaprovaram o projeto. Integrante da Associação de Táxis da Avenida Nilo Peçanha, Itamar Pedrosa, 43 anos, está revoltado.
– Se fechar a Rio Branco, para onde o trânsito, que já é uma loucura, vai escoar? Para a Avenida Passos, Mergulhão da Praça XV? Vai parar a cidade – alerta ele. – O prefeito tem que cuidar é da saúde pública que está abandonada.
Taxista há 23 anos, Itamar segue questionando.
– Onde os carros de valores vão parar para recolher o dinheiro das dezenas de bancos que tem aqui? E os edifícios garagem? Vão viver de quê? – indaga – Será que ele não sabe que dia 26 cai num sábado, dia morto no Centro? Que validade vai ter esse teste?
O também taxista Frank William, 27 anos, é contra a proibição de táxis na via.
– Esse projeto não existe. Aqui é uma área comercial. As pessoas precisam de opções de condução – entende Frank, morador de Mesquita.
Já contabilizando prejuízos nas vendas, os comerciantes são contra o projeto. Proprietária da cinquentenária livraria Da Vinci, no Edifício Marquês do Herval 185, na Avenida Rio Branco, Milena Duchiade discorda do prefeito.
– Tinha de haver um debate com urbanistas, comerciantes, engenheiros, sindicatos e a população. Não é assim, tive uma ideia, vou fazer. A Rio Branco pode virar um imenso camelódromo. Tem que haver é um corredor para ônibus, como em São Paulo e Curitiba.
Daniel Choniski, dono da livraria Berinjela há 15 anos, também critica.
– Não tenho opinião, porque a prefeitura não mostra o projeto. Ele é fechado a sete chaves. Como querem colocar quiosques se nem fiscalizam as bancas de jornais irregulares da avenida? – cobra.
Sugestão
O geofísico Alcides Aggio, paulista de 57 anos, acha que o Centro não tem estrutura para se dar o luxo de ter uma avenida como a Rio Branco exclusiva para pedestres.
– É complicado. O ideal era fazer como no Vale do Anhangabaú, que ganhou uma via subterrânea, deixando a superfície para pedrestes – lembra. – Mas é preciso ter bilhete único para todos os transportes e um metrô ao nível do de São Paulo, que o Rio não tem.
A revisora Mônica Machado não poupou o prefeito Eduardo Paes de críticas.
– Isso é um projeto fascista porque é imposto, sem ouvir a população. Ele vai acabar enchendo isso aqui de camelôs.
Prefeitura pretende reduzir a poluição
Desenvolvido por engenheiros e arquitetos da Secretaria Municipal de Urbanismo, o projeto Rio Verde engloba também a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Segundo o subsecretário da pasta, Altamirando Moraes, o Ambiente atuará em pelo menos três frentes.
– Cerca de 36% dos gases tóxicos que poluem a Avenida Rio Branco vêm da emissão de gases de ônibus e carros – afirma o subscretário. – Haverá ciclovia porque o objetivo é estimular o uso da bicicleta. O Pedala Rio ganhará bicicletários no Centro, Flamengo, Botafogo e Tijuca. A avenida será totalmente arborizada.
O projeto prevê o fechamento do quadrilátero das avenidas Rio Branco – desde a Presidente Vargas –, Passos, Beira Mar, Presidente Antônio Carlos, República do Paraguai e Rua Primeiro de Março.
Especialista critica projeto
Cientista de trânsito e ex-diretor do Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro e colunista do JB, Celso Franco contesta o fechamento da Avenida Rio Branco.
– Não vejo outra razão para se eliminar essa importante via de tráfego a não ser a vaidade de um arquiteto inexperiente em tráfego – critica.
Celso Franco condena a obra, que ainda não tem um orçamento definido, nem muito menos foi apresentada à sociedade.
– O custo e benefício não justifica a obra. É preciso eliminar o tráfego de veículos particulares no horário comercial. A via seria exclusiva para ônibus e taxis.
Celso Franco vê outra deficiência a ser combatida.
– É preciso racionalizar ônibus, acabando com as entradas à esquerda na Av. Alte. Barrozo e na Rua Araújo Porto Alegre. Já existe estudo da Rio Ônibus para se criar faixa só para ônibus, no contra fluxo.
O especialista cita outras mazelas a serem eliminadas.
– O que é necessário é se desobstruir as calçadas de camelôs e imensas bancas de jornal, de péssimo gosto, em benefício do pedestre.